CONSCIÊNCIA NEGRA - Cotas: Uma tentativa de equidade racial

A Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), por meio da Política de Ações Afirmativas, criou o Programa de Integração e Inclusão Étnico-Racial (Piier) em 2004 e teve o programa implantado no segundo semestre do ano de 2005.

A Unemat foi a primeira Instituição de Educação Superior de Mato Grosso a adotar uma política de ação afirmativa com vistas ao ingresso e a permanência de estudantes que se autodeclaram negros ou pardos

A Lei de Ações Afirmativas das Instituições de Ensino Federal foi criada em 2012 (Lei 12.711/2012) e é válida até 2022, mas pode perder a sua validade caso não seja renovada pelo Congresso.

A política de cotas ainda é um assunto muito discutido nas universidades do país, divide muitas opiniões e gera polêmica.

Há quase uma década, o Estado criou ações que pudessem tentar diminuir uma histórica desigualdade racial, ou pelo menos tentar promover uma maior diversidade e inclusão nos espaços de formação intelectual.

Negros na universidade

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de matriculas de estudantes negros e pardos nas universidades e faculdades públicas no Brasil ultrapassou, pela primeira vez, o de brancos. Em 2018, esse grupo passou a representar 50,3% dos estudantes do Ensino Superior da rede pública. Os dados são da pesquisa Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, realizada pelo IBGE.

A melhoria dos índices educacionais dessa parcela da população da rede de ensino é o reflexo das políticas públicas de ações afirmativas raciais. Essas políticas garantem a permanência de negros na universidade, segundo o IBGE.

Alunos cotistas da Unemat

O estudante de Arquitetura e Urbanismo em Barra do Bugres, Victor Manoel da Silva, tem 21 anos e é um dos alunos que ingressou na Unemat através do sistema de cotas. Ele entrou na Universidade há pouco tempo por meio das cotas raciais. Morador da cidade de Cáceres, Victor trabalhou numa instituição de Ensino Superior privada e sempre sonhou em cursar Arquitetura. Ele tem dúvidas se estaria no espaço universitário se não fosse pelo sistema de cotas.

Os primeiros meses de aula na Universidade foram os mais pesados para Victor. “Eu só me perguntava: onde eu estava esse tempo todo que não aprendi essas coisas básicas?”, conta ele.

Segundo Victor, a sua maior dificuldade foi a base de ensino que teve em escola pública, o que o levou a ter muitas dificuldades na primeira fase do curso. No início, ele se sentia perdido por não saber como iria se manter, estudar, trabalhar e ainda aprender o que deveria ter aprendido no Ensino Médio.

Victor, que é negro, diz que a base de estudos que recebeu fez com que ele entrasse em desespero na faculdade, pois o ensino que recebeu era carente de investimento público. “Não é possível desenvolver o aprendizado em um ambiente que não foi formado para isso”, explica.

O programa de cotas foi criado para diminuir a desigualdade racial causada pelo racismo estrutural que está enraizado há anos no Brasil.

“O povo negro tem uma classe social muito baixa, com renda que não dá para ter uma vida de digna, muito menos ter um estudo de qualidade e as mesmas oportunidades dos outros. As cotas ajudam os negros a terem algumas oportunidades semelhantes às dos brancos e da classe alta, levando em consideração a escravidão e colonização, pois isso é o que reflete a pobreza”, diz Victor.

“No meu caso específico, não teria como ingressar na faculdade sem o programa de cotas, pois, assim como várias pessoas da comunidade preta, eu sempre tive que trabalhar e nunca consegui conciliar com os estudos. Precisava estudar, mas muito mais do que estudar, eu precisava me sustentar”, explica.

Layanne de Oliveira tem 27 anos e é de Brasília, ingressou por cotas raciais no curso de Medicina, na Unemat em Cáceres. Ela diz que as cotas são essenciais para que as pessoas como ela tenham acesso ao Ensino Superior.

“As cotas são muito importantes, são uma tentativa de reparação histórica. Os negros são a maioria da população brasileira e, ainda assim, dificilmente vemos um negro ocupando cargos de grande importância. Acho que até por isso a gente fica tão feliz quando reconhecemos a vitória de algum negro, porque é como se a gente pudesse conquistar também”, explica Layanne.

Por Yesa Maria (Estagiária de Jornalismo)