O dia que li um poema de amor para Drummond...

Lawrenberg Advincula da Silva

Era fim de tarde de mais uma sexta-feira quando parei e olhei para aquele senhor. Lá, ou talvez acolá, mas sentado, sereno, e talvez o mais observador. 

Drummond, veja Drummond, murmurava um casal naquela passarela de Copacabana...

Eu, desatento, indagava perdido, deslocado, depois naufragado num estranho silêncio. 

Drummond, és tu?

Fiz a pergunta de um jeito tão sóbrio, senão demasiadamente acanhado. Contudo, sem resposta. Um vácuo inglório!

E insisti. Drummond, és tu? E nada. Só após quatro tentativas, um sinal. Um lacerante olhar e suficiente para me desfazer como um castelo de areia. Afastei-me.

Constrangido, virei as costas e decidi caminhar nas areias da praia. Naquele dia, uma paisagem fascinante de outono brindava aos mais românticos caminhantes. A água do mar aproximava, crescendo, assoviando e seduzindo a todos. Por alguns momentos, lançando um doce feitiço, como se a fantasia tivesse sabor e cor. 

Quando já estava determinado a cair nos braços do mar, um ruído, uma voz grave... aquele senhor, a sua imponente estátua, tinha me chamado pelo nome. Lawrenberg! Lawrenberg! Reagi atônito. Peguei minhas coisas e retornei à passarela até ao banco, onde se mantinha imóvel Drummond. Dirigi-lhe o olhar sem pestanejar e ele, num diligente aceno, indicou um livro à sua esquerda. Era um diário, de capa emoldurada de tons de vinho, camurça. Um acabamento clássico. 

Perguntei-lhe: quer que eu leia? E ele respondeu sim, inclinando a cabeça para baixo. 

Sem parcimônia, comecei a folhear aquele livro, embrenhado por uma curiosidade latente. Tocava cada folha, deslizando minhas mãos com todo cuidado que um amante à moda antiga assim fazia na primeira noite de núpcias. Minhas mãos não só deslizavam devagar sob a superfície do papel, como clamavam por habitar suas entranhas mais erógenas, num instante de cumplicidade devassa. Havia entrado num transe súbito e somente interrompido com o sinal de Drummond indicando à página 15 daquele livro. 

Lá, um título sugestivo no cabeçalho: Amores Proibidos. 

Ao deparar com aquele título, logo esmoreci, como se tivesse o coração atingido por uma flecha invisível. Afinal, pela primeira vez, tinha sido decifrado... e sem me devorar.

Lawrenberg Advincula da Silva
Professor do Curso de Jornalismo / Unemat 
Membro da Diretoria do Sindicato de Jornalistas de Mato Grosso - Sindjor-MT/ Coordenação Tangará da Serra