Oficina de arranjos florais marca retomada do projeto RefloreSer

Após uma pausa no final do ano, as reeducandas já aprenderam a montar arranjos no retorno das aulas em 2020

Enquanto aguardam as flores desabrocharem, as reeducandas da Penitenciária Feminina Ana Maria do Couto May aprendem a montar arranjos de flores tropicais com amostras fornecidas pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat). A oficina marcou a retomada do projeto RefloreSer em 2020, com aula teórica e prática, ministrada nesta terça-feira (03.03).

O resultado foi surpreendente, segundo a jovem Carla*, de 21 anos de idade, uma das 30 participantes. “Não esperava lidar com flores um dia, é muito gratificante ver o resultado e saber que nós mesmas fizemos, sentir o cheiro das flores, poder ficar nesse ambiente por um tempo. Isso dá ânimo, porque é um momento que saímos das celas, e também é uma atividade que diminui muito a ansiedade”.

Ela, que concluiu o Ensino Médio dentro de uma unidade penal, pretende fazer faculdade de Psicologia e, quem sabe, utilizar o conhecimento adquirido no projeto para obter uma renda quando terminar a pena. “Faltam cinco anos para eu sair. É um pouco doloroso, porque sou de Tangará da Serra e minha família só pode vir de três em três meses fazer a visita, tenho uma filha e sinto muita saudade. As flores ajudam um pouco a superar o peso da distância”, afirma.

Joana* também ressalta que todas precisam ter uma nova chance. “Somos seres humanos e merecemos uma segunda oportunidade, é com nossos erros que vamos aprendendo. Se a gente nascesse sabendo de tudo, qual seria a graça? É como uma criança que cai algumas vezes até aprender a andar”.

Ela considera o projeto importante, porque tem acesso ao conhecimento e contato com a terra. “Aprender sobre as flores, sentir o ar puro, mexer com a terra, tudo isso faz bem, até sentimos falta quando não tem”.

Comercialização

Por serem resistentes ao clima quente e possuírem ciclo de vida longo, as flores tropicais são bastante procuradas por floriculturas, empresas de decoração e de paisagismo. A intenção é comercializar, inicialmente, as espécies helicônias, alpíneas e bastão do imperador, que foram plantadas pelas recuperandas e já estão com as folhagens aparentes. A florescência deve ocorrer nos próximos três meses.

O coordenador técnico do RefloreSer, professor da UFMT Rafael Campagnol, explicou o andamento do projeto. “A gente começou com a parte de preparo do solo, com a propagação das plantas, parte do manejo cultural, da colheita e agora, neste quinto módulo, arranjos florais, e também faremos oficina sobre arranjos de buquê de noivas”. Ele também frisa a satisfação em gerar oportunidade de atividade para as reeducandas. “É muito bom poder compartilhar o conhecimento e momentos bons para que elas tenham uma condição melhor nesse período em que estão reclusas”.

As flores tropicais levam de seis a nove meses para atingir a condição de corte, mas também possuem boa durabilidade. “A floração se dá por rizoma, então depois que ela está pronta, não para mais, é perene, elas são adaptadas ao clima de Mato Grosso, são belas e duráveis. Podem ser utilizadas na comercialização como flores de corte e também no uso de paisagismo e em arranjos florais”, explica a professora da Unemat, Celice Alexandre Silva, que ministrou a oficina.

Parcerias são essenciais

Além da adjunta de Administração Penitenciária (SAAP) da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp-MT), UFMT e Unemat, a iniciativa conta ainda com a parceria da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Mato Grosso (OAB-MT), Conselho da Comunidade e Poder Judiciário.

“O projeto foi sonhado por pessoas apaixonadas pelo ato de ressocializar, pelo resgate do ser humano. Nossa intenção também é angariar recursos com a comercialização das flores para elas mesmas e para a manutenção do curso, além de promover a remição de pena, pois a cada três dias de aula no projeto um dia é reduzido”, salienta a diretora da Penitenciária Feminina Ana Maria do Couto May, Maria Giselma da Silva.

O superintendente Regional Leste do Sistema Penitenciário da Sesp-MT, Anderson Santana, acrescenta que as ações de reinserção contribuem para a não reincidência no crime. “Estas oportunidades representam muito para quem está cumprindo pena e realmente quer mudar, por isso temos desenvolvido cada vez mais projetos nesse sentido, e é fundamental que a sociedade tenha essa consciência”.

Para conseguir desenvolver o projeto, foi montada uma estufa dentro da unidade com dois tipos de tela de sombreamento: 65% (indicada para cultivo de flores delicadas) e 35% (folhagens e demais flores). O plantio começou, efetivamente, há cerca de seis meses, após toda a estruturação necessária do espaço.

Fonte: Nara Assis | Sesp-MT